terça-feira, abril 24

Olhos cor da àgua

Não sei quantas vezes te encontro em mim como se me perdesse de sentidos e te encontrasse em cada traço que perfaz o meu olhar. Como se os olhos se repartissem em pétalas cruzadas ela madrugada que aos teus olhos se desfazem em tons de violeta trespassando as minhas mãos que te pedem para falar. Sossego-te, arranco-te do som inquieto que não te deixa dormir, das vozes que cantam aos teus ouvidos ruídos que fazem o teu coração bater acelaradamente todas as noites. Todas as noites eu te beijo enquanto o teu sono é descansado. Quando ele se corrói de escuridão e luzes negras espelhadas na tua face eu recolho-me ao meu lugar. Sei que não sou daí. Que nunca sentirei na pele as palavras que contas e aquelas que guardas só para ti. Cuidas de mim. Eu sei. Eu só queria fazer o mesmo por ti. Deitar-te no meu colo e fazer-te adormecer, para que acordasses sem esse peso que te fecha os olhos pintados de pedaços de solidão que quando olham os meus se dividem em pedaços de verde vivo tão vivo que eu não sei explicar. Olha-me com esses olhos, sente todos os pormenores de mim em cada olhar. Eu estarei sempre aì. Nos teus olhos. Nos olhos que eu roubei para mim. Olhos cor da água. Olha-me com os nossos olhos. Profundamente. Cegamente, olha-me com a cor da àgua.