Este cheiro a terra que se entranha no meu olfacto, relembra-me os dias em que a chuva abençoou os nossos beijos e abraçou os nossos passos.
Quando paraste, os teus pés uniram-se ao chão e dentro de ti era sonhado mais um momento que não viveste, que pressentes que não vais viver mas que se torna tão real dentro de ti. Os teus olhos recheados de brilho iluminam os meus, a minha cabeça pensa tanto. Tentei ler-te mais uma vez. Mas tu mostras uma página, e voltas a fechar o livro. A história é longa e eu tenho medo de não me dares tempo de a ler, quem sabe sequer se me darás o privilegio de a conhecer. Completa. Intensa. Verdadeira. Duvido. Sempre guardarás para ti o que realmente dói. Podes até contá-lo. Mas partilhá-lo? Nunca. Com a partilha, vem a dádiva. Tu não me queres dar o teu sofrimento que te corroí, apesar de pareceres sempre tão imune, eu sei que ele ferve nas tuas veias, é pesado na tua alma e naquela noite caiu leve pelos teus olhos e fechou-se nos teus lábios. Deste-me a beber um sal amargo. Eu dei-te o doce das minhas mãos e o silêncio para te dar o espaço. Amar-te é isto.
domingo, janeiro 22
sábado, janeiro 21
A abstracção total da existência que nos carrega nos braços e nos leva para outra dimensão onde nos encontramos nus de tudo o que nos envolve. Paramos. Só a mente não resiste a continuar. Começamos a viagem, acendemos um cigarro que no fumo guarda as nossas histórias e que a cada beijo nos leva o cansaço. Até que atingimos o nosso destino. LEVE. Só nós por dentro e o mundo lá fora. Mas um fora que não nos toca, que não nos abraça. Estamos desprotegidos de fora, a nossa protecção surge do interior do nosso corpo. O coração embala-nos. Os nossos olhos fecham-se. Um momento torna-se eternidade. Conhecemos a felicidade. Agora podemos fechar a porta e voltar ao mundo outra vez.
quarta-feira, janeiro 18
A mulher dos lábios vermelhos
A mulher dos lábios vermelhos estava sentada no chão. Os seus olhos procuravam respostas que o chão manchado onde se apoiava, não sabia dar. Olhou para o tecto, encontrou um vazio branco que lhe cegou os olhos ansiosos de ouvir palavras e conforto. Acendeu um cigarro e permaneceu ali embalada pelo fumo. O cigarro escondeu a dor, apagou por segundos a tristeza que se desenrolava nos gestos, num simples respirar. No chão o cinzeiro laranja aceso de beatas. Apagou o cigarro marcado pelo batom vermelho. Pediu ajuda mas a voz seca não o permitiu, Nos olhos acendeu-se uma luz que cheirava a morte. Ela morreu e ninguém deu conta. Nos sorrisos tanta dor e ninguém viu. Nos olhos tanta mágoa e ninguém os leu. Ela morreu. Tu não viste, Não sentiste. Não sabes. Ela partiu.
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