Estas palavras estavam difíceis de ser ditas, ou melhor, difíceis de ser escritas.
Mas hoje e talvez só hoje, sinto que é preciso falar o que calei durante muito tempo.
As lágrimas apesar de correrem sem parar no meu rosto incrédulo, são poucas para expressar o que senti quando te ouvi naquele dia. Já havia passado muito tempo desde a última vez que tínhamos estado juntos, havia algo diferente no ar, uma dúvida, uma suspeição até, mas eu continuava a tentar descobrir no teu silêncio as palavras que me confortavam.
Ao ouvir-te dizê-lo, foi como se o "tapete de salvação" que tinha sido este tipo de relacionamento voasse debaixo dos meus pés. Eu estive bem ciente, apartir do momento em que me contaste, que eu era e fui apenas mais uma. Nunca fui especial. "Podia ser eu, como podia ser outra". Lembro-me de tentar furiosamente repetir esta frase vezes sem conta interiormente, até que esta certeza se tornasse mais fácil de engolir.
O teu jogo dói. Magoa-me por completo. E deve magoar as outras que se apaixonam por ti.
As lágrimas caiem, neste presente que me separa de ti.
Tu estás longe.
Mas eu continuo perto de ti.
Quando me devia afastar.
Acabo por estar ao teu alcance.
Quando não deveria estar.
Mata-me de vez. Não literalmente. Ou talvez, como disseste que fui especial. Mata-me especialmente. Para que eu possa renascer e acreditar que existe alguém que um dia me vai amar simplesmente. Sem nunca me ver como um objecto com que se brinca, se volta a brincar, que se larga,que se deixa,que se troca por outro. Mas a quem nunca dizemos o que sentimos, porque os objectos não sabem sentir, não sabem o que isso é. E demonstramos nada, porque se sente nada. Mas passado uns tempos voltamos a lembrar-nos daquele brinquedo que guardámos naquela caixa empoeirada, e vamos buscá-lo mais uma vez. Esse brinquedo fala, mas não incomoda. Brinca mas não exige. Está ali, para uso próprio. E ama sempre, apesar de não ser amado. Sorri sempre apesar de magoado. Se ele se recusar a sair do lugar, vamos puxá-lo e ele vem. Apesar de tudo, vem. Porque a amizade está acima de tudo e apesar de tudo. Tu conseguiste sempre. Conseguiste puxar-me. E eu fui.
Comi os teus restos sem pestanejar.
Eu agora sou os teus restos que acabei de chorar.
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