sexta-feira, janeiro 8

O que foi não volta a Ser

Sei o que já não tenho. Porque permaneci quieta no meu canto. Deixei de lutar, se é que alguma vez lutei.
Não posso dizer que partiste porque ainda não te foste embora. Continuas cá , no único lugar que a minha alma não fechou. Sinto-te nos meus pensamentos perdidos, estás lá e cá, em todas as horas em todos os desejos. Nos dias que passam devagar é a tua voz que guia a minha pressa em acabar o que nunca foi meu. Porque nunca foste meu, porque eu quis ser tua. Porque não queria estar na tua mão, tão cheia de ses, de não sei´s de tudo, menos de sins. Nunca disseste o sim que queria ouvir, nem sequer abriste as portas da tua vida. Não me deixaste entrar. Agora reflicto sozinha, e vejo tudo como um filme antigo. Cena a cena, a história começa a tornar-se irrelevante. É apenas mais uma, como eu fui para ti. Apenas isso. Quanto mais vejo o filme, mais me recordo das palavras que nele faltam, as palavras que não te disse, a raiva que não ouviste, o amor que não te consegui dar porque tudo era demais e acabou por ser de menos para mim. O vazio no teu coração que tu nunca viste, nem te apercebeste. Eu não deixei, escondi. Cheguei mesmo a fingir, para não ser dor, para ser o que era. Tanto que não soubeste, tanto que não sentiste. E agora? O que resta deste filme? Sobra a pena que tenha sido assim, mas sobrevive a realidade que realça que não podia ser, não dava mais, acabou. Ou melhor acabámo-nos um ao outro, atráves do que dissemos, do que escondemos, nunca jogámos limpo. Porque encarámos isto como um jogo, fomos peões num jogo de xadrez e deixamos que o jogo se apodera-se de nós. Ninguém ganhou, ninguém fez xeque-mate. Apenas eu perdi. Mas tu também não ganhaste. Porque permaneces fechado nessa tua bolha impenetrável de razão e certeza. Já não há nada a fazer, nem lugares nossos por onde fugir. Há que encarar a perda daquilo que nunca foi nem teu nem meu. A sorte que nos juntou tornou-se no azar que nos aproximou. E no sujo do jogo nunca surge o amor, surge a dúvida. Dúvida essa constante, que sempre permaneceu escondida nos sorrisos quebrados pela suspeita. Agora só falta vermos o fim do filme, e senti-lo. Acordar e saber que o que foi não volta a ser por muito que (ainda) se queira, como dizem os Xutos.

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