quarta-feira, janeiro 20

Lengalenga

Porque quando te vejo não me vejo a mim. Vejo que te conheço mas não me reconheço em ti. Páro para ouvir o que tu dizes e nada daquilo que hoje dizes, é novo para mim. São constantes repetições de lengalengas enfeitadas de amor mas que nada me dizem a mim. São ruídos de esperança ecoados com o único prepósito de me agarrar a ti, mas eu não deixo. O meu corpo não permite, os meus pés estão presos ao chão da sala, eu não saio mais daqui. Não vou, nem fico. Permaneço. Porque sim. Não porque te devo alguma coisa. Só, porque deve ser assim. Tenho o dever de pelo menos te ouvir, e o direito de ficar calada. Já nada mais há para dizer. Apenas ouvir-te. A ti, nesse discurso inflamado de tanta surpresa em eu estar a agir assim.
Nós já fomos aquilo que fomos, noutra altura, num tempo que era só nosso. O plural deixou de existir. Agora os caminhos são diferentes. Eu escolhi um lado e tu foste por outro. O lado que é só teu. No qual eu já não estou incluída porque escolhi. Eu acho que tu não escolheste. Foste. Foste, apenas para onde era mais perto. Porque o longe, custa. É um longo caminho a percorrer. E tu não queres o esforço, optas por cair em glória. E caíste na minha.

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