Ela não contou tudo, apesar de ter contado muito até. Contou o que podia. Será que ela devia ter contado? Podia eu ouvir? Deu-me vontade de ir até ao fundo da questão, e saber tudo. Rasgar a dor que ainda existe dentro dela e trazê-la comigo, resgatá-la de todo aquele silêncio que nos corrompe que vence as nossas palavras, mesmo quando damos luta.
Queria puxar os fios daquela marioneta com toda a força, quebrar-lhe a expressão falsamente feliz e dizer-lhe: diz, fala, conta eu estou aqui a ouvir.
Posso não perceber, não saber ajudar, mas estou aqui humildemente com os meus olhos bem abertos cegados pela tua grandiosidade, de alma descoberta para te guardar, de corpo cansado de te procurar. Não me peças para não te ouvir, pede-me antes para fingir que não te oiço.
Eu descubro todos os teus passos através do teu olhar inquieto que não esconde os teus pensamentos e que revela todas as tuas ansiedades. Se os olhos são o espelho da alma, são também o reflexo do teu coração, que brilha apesar de tudo, mas que ainda chora contudo. Não esqueceste, eu sei. Nós sabemos, só não o dizemos. Está aí. Não foi embora essa pequena dor, que teima em existir no mais solarengo dia. Tu escondes, mas é nos mais banais gestos que se vê. Está no teu olhar. Cresceu dentro de ti, como se o teu coração fosse um esconderijo. Mas agora vê-se. Sempre se sentiu, mas agora vê-se. Eu sabia que não a tinhas perdido. Só sei que nunca a querias ter encontrado.
quarta-feira, janeiro 27
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