Tomaste-me em teus braços como o mar
que se envolve no céu gelado de branco assustado pelo vento que o parece
rasgar.
Os teus dedos são tão leves na minha
pele que só de mente presente os sinto deslizar. Os teus olhos mudam de cor ao
passo que as tuas mãos envolvem todas as linhas do meu corpo suado, com um
brilho quente, esquartejante, embriagado que se afasta ao relento. Não sei o
que faço. A minha pele percorre-te ofegante sem feridas para contemplar. Arrancaste
estas feridas sem deixar marcas, deixando imaculada a tela do meu corpo.
Sei que a alma te agarra enquanto a
boca se deleita no teu ombro. Dou-te um beijo suave e percorro o teu desgosto.
Tu ofereces-me o mundo em troca
sentes-me o gosto.
As tuas palavras sonham mas trazem-me
uma realidade que já esqueci. Como se a vida fosse só tua e eu a vivesse
através de ti. Palavras. Tantas palavras que se conjugam num amor pintado nas paredes
do quarto.
Dou-te sendo tua, os meus pés que são
teu caminho, repleto de traços. Os traços da tua pele que me alentam o corpo
cansado, rasgado, recortado vezes sem conta e por ti junto, reunido, inteiro
pela primeira vez desde que é corpo.
Agora digo-me inteira, já não me reparto
em pedaços. A história respira nos pedaços. Os pedaços são o espaço que ocupa a
história, A minha história é um conto que roça levemente a ficção, escreve-me o
final, eu que se deu no outro. Escreve. Escreve-me nos teus gestos, prende-me
ao teu abraço, tatua-me com o sal das minhas lágrimas em teu peito. Faz-me de
vez tua e deixa-me adormecer no meu próprio cansaço.